quinta-feira, 5 de junho de 2014

À deriva! Rumo ao fim do caminho

Por Atanásio Mykonios



Dizer o mais do mesmo pode não ser de bom alvitre. Por todos os lugares do mundo, o contexto é de confrontação. Os conflitos sociais irrompem em violência desmedida. Grupos organizados, de diversas denominações, atuam com a força das armas, subjugam populações, os refugiados transitam por todas as fronteiras. A África está mergulhada em um banho de sangue. Os interesses econômicos conflitam com os interesses locais. Na Europa, o massacre no leste da Ucrânia nos mostra que grupos fascistas e neonazistas estão em franca ascensão. A extrema-direita assume uma posição preocupante no continente europeu e os indícios são de que ainda há mais espaço para conquistarem. Podemos contar mais de 50 países mergulhados em conflitos de várias espécies, todos, contudo, de caráter extremo de violência. Após o fracasso das esquerdas gestoras da crise, o capitalismo faz guindar aos postos de comando estatal os representantes da tecnocracia transnacional – os novos gestores assumem postos políticos, porém, não conseguem responder às demandas sociais e econômicas. Os trabalhadores estão encurralados nos seus territórios, seus respectivos estados-nacionais são uma ficção histórica. A Ásia está entre um crescimento econômico que empurra a concorrência capitalista para o extremo leste e a iminência de uma decadência inevitável da produção de valor paira sobranceira sobre as sociedades asiáticas. As américas começam a viver a crise dos estados-nacionais, a queda da atividade econômica se apresenta como fracasso das esquerdas pelo continente latino-americano,  sem que nem mesmo a direita tenha recursos para responder às demandas que surgem do interior do processo de produção industrial, que perde fôlego, ao mesmo tempo em que os juros continuam altos para os trabalhadores. Greves, paralisações, manifestações. Por outro lado, o imaginário coletivo e as formas urbanas de interpretação do contexto atual criam mecanismos de interpretação de aprofundamento dessa crise com contornos e nuances catastróficas. Pelo mundo, o que posso constatar é que estamos já em um ambiente de profunda destruição. Que definição é possível para esse contexto? Mas há os que não conseguem perceber esse processo ou o negam a fim de se manterem incólumes o barbarismo que se espalha como rastilho de pólvora. A velha máxima das esquerdas, “socialismo ou barbárie” está às nossas portas, mas com uma funesta constatação, a saber, onde está o socialismo das esquerdas? Isso revela uma dramática condição, o capital está em um declínio não virtual nem contingencial, está em franca decadência, que se torna uma perspectiva definitiva. Por outro lado, uma forma de organização social, que está reagindo com toda a violência (e isto não parece ser reconhecido nem mesmo pelas esquerdas e suas vanguardas) são as religiões, com seu discurso messiânico, apocalíptico e insurrecional. As religiões poderão responder com a violência que lhes é característica, nas variações regionais conforme a cultura e o lugar social em que se encontram. Ora com ações de violência total, ora como discurso de re-fortalecimento do próprio capital e sua consequente sociabilidade. Os conflitos que explodem escondem um sintoma de uma causa comum – o capital. No entanto, o que emerge como mais o trágico é a constatação, feita por alguns de modo claro, da falta de um projeto articulado por parte das esquerdas. Somos muitos e fragmentados, e parece que continuaremos assim. E dessa forma, o capital entra em colapso e leva à barbárie a humanidade. Estamos imersos no obscurantismo! Estamos à deriva? A sociedade mundial não tocou no modo de produção capitalista, procurou criar condições para uma justiça distributivista – o capital é dado como certo e irrevogável. Esse mundo está muito perigoso para termos uma esperança. Talvez o fim do caminho esteja próximo! Um projeto mundial está longe de se tornar ao menos uma parca esperança, a centelha da vida que ilumina a sociedade.

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